Eu cheguei à Unidade 5 de Outubro, mas cheguei a medo. Como numa daquelas histórias de telenovela argentina em que a moça começa novo namoro, e, pelo sim pelo não, mantém o anterior, só a ver em que é que param as modas.
E é assim que, estando em Fevereiro de 2008, vinda de uma daquelas viagens arrasadoras em que o chão me parece andar debaixo dos pés, me vejo à porta da academia do N. D., pé dentro pé fora, a falar com um senhor muito vestido de azul e também muito calmo (não quero aqui usar o "Zen", que parece mal, mas cai-lhe bem). Digo-lhe ao que vinha. Queria pagar a mensalidade do Judo da minha filha Leonor, que a viagem me impedira de pagar a horas. Não era com ele, explica-me com toda a calma. Com ele era Yoga.
- Quer experimentar? pergunta-me.
No meio de tanta calma, que conseguiu não me irritar (normalmente as pessoas que fazem muito suspense em cada frase irritam-me), quis mesmo experimentar. E o senhor de azul, mais novo do que eu, de quem hoje não me lembro o nome, foi meu professor, pelo menos até Julho.
Entrei triunfal. De preto. - Tente cores mais claras. Disse-me ao descair.
A minha primeira aula foi uma autentica sessão de tortura. Hoje sei que o que fiz foi uma aula de yôga ortodoxa "sem contemplações". Depois de um mantra puxado, de me debater com o pránáyáma e de perceber que não sabia respirar, entrei num ásana severo de 2 minutos e meio para cada lado. Ai pernas, que vos preciso para a embraiagem! E vai que chego à invertida sobre os ombros. Boa, uma que eu sei bem, fazia isto em pequenita e ainda hoje quando me apetece! Não, nem pensar, quem está com o período não a deve fazer por razões de segurança (sem mais). Bolas, que mau feitio. E mesmo assim gostei! Foram precisas mais umas aulas para perceber que gostava da ideia, mas tinha de haver algo melhor. Foi preciso ainda comprar umas calças de um azul petróleo lindíssimo, com um top de pandam, nada baratinhos acrescente-se, e me sair o senhor azul: - Desculpe, mas essa cor está reservada ao mestre. Afinal o rosa é que era para as meninas!
O tanas, aí que tanta calma e má vontade me fizeram dar corda aos dedinhos e procurar na internet algo mais docinho. Yoga sem "^" procurei eu. Sairam-me os Samkhya, de quem já era aluna e um tal de Raja Yôga, ali para as Amoreiras. Lá fui eu. Aula experimental. Não me apanhavam noutra. E eram grávidas-gravidíssimas, muita mentalização e um Súrya Namaskára interminável. Não, ainda não era aquilo!
Mudei a busca: Yoga em Lisboa. Mesmo sem "^" lá apareceu a Unidade! Uma senhora cativante ao telefone. Uma visita apressada. Um Hugo convincente. E muita pressa, muita mesmo. A senhora cativante materializou-se numa Professora Zélia simpática, mesmo muito simpática, o que por acaso não me irritou, ainda que à data bebesse do cliché do muito-simpática-muito-cínica. A cada vez que nos cruzávamos, vinha-me a nítida sensação de que já a conhecia. Mas a convivência veio a provar que não, não a conhecia de lado nenhum, nem tão pouco ela a mim (quisera hoje, quem sabe), mesmo assim, sabe-se lá porquê, hoje subsiste essa sensação. E depois de muita aula boa, depois de ter sido simultâneamente aluna de dois métodos por quase dois meses e de ter optado por este, fiquei, fui ficando, vou ficando, na unidade e no mesmo nível! Isto apresar das reclamações, mais que fundadas, sublinhe-se, daquela senhora simpática que até me propôs que vos contasse tudo isto e na qual ouso depositar toda a responsabilidade destas palavras. E porque vos adoro, desejo-vos muito Rosa. (agora até já gosto!)
Beijos
Micaela